As experiências desenvolvidas nos últimos dez anos pelo Programa Corra pro Abraço demonstram que, para a promoção do cuidado de pessoas que fazem uso de drogas em contextos de alta vulnerabilidade, é imprescindível a criação de vínculos e confiança com o público assistido, mais do que a boa vontade ou os conhecimentos técnicos.
A ética do cuidado construída no Programa prioriza a criação aprendizagens para entender que os apoios que as pessoas que fazem uso de drogas necessitam não podem eximir a presença de terceiros como os técnicos, mas que esta não pode ser uma dependência enquanto vinculação desejada. Assim, tendo em vista as possíveis precariedade, dependência e dificuldade de acesso aos serviços públicos que os assistidos pelo Corra estão sujeitos, investe-se na noção de justiça social e de garantia dos direitos humanos.
No que tange à Política sobre Drogas (Lei Nº 11.343, de 23 de agosto de 2006), o desenho inicial do Programa foi modificado ao longo de sua trajetória, criando diferentes formas de atuação nos territórios que perpassam as rodas de arte-eduçação nas ruas, as abordagens da equipe de Extensão, oferta de serviços nas UARs (Unidades de Atendimento na Rua), as ações preventivas com juventude e a atuação em audiências de custódia.
O território é aqui instrumento fundamental para a gestão da política pública. A noção de território para além de uma categoria de análise ou um discurso inócuo edifica-se nas experiências vividas no cotidiano do Corra pro Abraço, em que é percebida a existência de processos de (des)territorialização, refletindo, assim, no desenho institucional e nas práticas inovadoras desenvolvidas pela iniciativa. O trabalho desenvolvido na Extensão que é complementado com a UAR e pelos atendimentos na sede é um dos exemplos vivos e vividos desta aprendizagem sobre território, territorialização e desterritorialização.
Os instrumentos de políticas de cuidados e redução de danos que vêm sendo criados pelo Corra pro Abraço têm cada vez mais sido inovadores ao compreender e estruturar problemas públicos relacionados à drogadição, ampliando alternativas e podendo gerar políticas públicas inovadoras. Nesse sentido, várias são as possibilidades e potencialidades que este programa possui para se institucionalizar como uma política pública de drogas no Estado da Bahia e até mesmo em outros contextos.