Nos contextos de vulnerabilidade urbana decorridos da criminalização das drogas, a educação formal e a inserção profissional são uns dos maiores desafios para as populações que convivem nesses cenários. Atento a esta demanda por acesso a direitos, o Programa Corra pro Abraço certificou nesta quarta-feira (15) mais uma turma de redutores de danos.
O evento ocorrido no Sindicato dos Trabalhadores Químicos da Bahia (SindiQuímica) debateu “A história da redução de danos e seus novos desafios no contexto atual” com Benimário Silva Santos e Marluce Oliveira, profissionais do CAPS AD Gregório de Matos e Maria Conceição Cardoso, ex-cursista e redutora de danos do Programa Girassóis. Outros beneficiários do programa da Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social da Bahia (SJDHDS) também foram acolhidos para as aulas da nova turma.
Emanuelle Silva, diretora de Prevenção e Redução de Danos da Superintendência de Políticas sobre Drogas e Acolhimento a Grupos Vulneráveis da SJDHDS, ressaltou durante o debate a importância da formação política e profissional voltada para pessoas em vulnerabilidade.
“Apostamos numa redução de danos sociais, porque a prevenção ao uso abusivo de drogas é em realidade possibilitar a garantia de direitos. Já é comprovado cientificamente que abranger cultura, educação e esporte, desloca a droga da centralidade da vida das pessoas. E pelo Corra pro Abraço pensar no sujeito de maneira integral é que o curso surgiu, para que vocês acessem também a informação de como são feitas as políticas públicas”, explana Silva sobre o amadurecimento do Corra pro Abraço, ao lado dos beneficiários, enquanto política pública de base antirracista, antimanicomial e com trabalho multiterritorial.
Frank Ribeiro, cientista social e coordenador geral do Corra pro Abraço, celebra em sua fala a conquista dos cursistas, assim como a importância da continuidade do investimento no curso.
“Agradecemos a vocês por aceitarem o desafio de fazerem parte do curso. Nesse momento em que a cidade se flexibiliza devido às medidas de combate da COVID-19, as aulas presenciais são também uma maneira de organização, de fazermos juntos a redução de danos, atendendo aos protocolos de segurança sanitária e ampliando a formação política. Agradeço a luta diária de vocês para estarem conosco nas aulas. Eu me descobri redutor de danos no Corra, que foi minha primeira função, mas aprendi a prática no dia a dia com vocês”, comenta Ribeiro.
Já Igor Mesquita, psicólogo do Núcleo Juventude do Corra pro Abraço, destaca a relevância do espaço de diálogo que é o Curso Redutores de Danos e Referência de Campo.
“Esse é um espaço de extrema resistência, tendo em vista os retrocessos no acesso a direitos humanos. Nós acreditamos política e eticamente que são o cuidado, a liberdade e o respeito à singularidade do outro que formam a redução de danos. Vocês que estão se formando são redutores de danos que aprenderam com suas experiências de vida. Esse é o diferencial deste curso, poder apoiar suas trajetórias e lugares de fala”, revela o profissional.
Redução de danos hoje
Os agentes de redução de danos formados pelo Corra pro Abraço têm acumulado a entrada na rede de atenção e cuidado, viabilizando estabilidade em suas vidas e continuidade de suas atividades profissionais. Maria Conceição, redutora de danos formada na primeira turma do curso do Corra pro Abraço, dividiu com o público do debate sua trajetória.
“Sempre vão existir pessoas para nos dizerem que não somos capazes, mas não desistam dos seus sonhos. Nós, pessoas em vulnerabilidade social, somos capazes. Só precisamos de oportunidade para nos tornarmos diamantes lapidados”, desvela a ativista que hoje trabalha no Programa Girassóis.
“Os redutores de danos tem como um de seus papéis levar informação de qualidade para que pessoas em vulnerabilidade. Ao encaminhar para os serviços da rede, vocês que se formam contribuem para o acesso a direito de maneira segura, elevando a autoestima das pessoas acompanhadas, já que infelizmente existe um leque de situações neste país que impedem que pessoas pobres e negras adentrem alguns espaços.” Explana Benimário Silva, redutor desde 1995, com experiência em atendimentos comunitários no Engenho Velho da Federação e atualmente profissional do CAPS AD Gregório de Matos.
O curso de Redutores de Danos e Referência de Campo é uma estratégia do Corra pro Abraço lançada em 2015 com objetivo de ampliar as práticas de redução de risco e danos sociais e à saúde entre usuários de drogas que vivem em contexto de rua por meio de metodologias leves e libertadoras. Nesta edição de certificação e aula Inaugural do Curso Redutores de Danos e Referência de Campo do Programa Corra pro Abraço seguiu todos os protocolos de segurança sanitária contra a COVID-19 para eventos estabelecidos na cidade de Salvador, contado com a presença de aproximadamente 30 pessoas nas dependências do SindiQuímica.